domingo, 9 de janeiro de 2022

 

Letra de Música 


 

      Os dicionários definem letra como “palavras que acompanham as músicas nas óperas, canções etc.” Ou “texto em verso de certas músicas, correspondente à parte que deve ser cantada”.

Primeiro, nem sempre se canta com letra. Portanto, podemos ter uma melodia cantada que não dependa de palavras - “Ária da “Bachianas nº 5”, por exemplo. Segundo, o termo libreto nomeia de maneira mais eficaz o componente linguístico da ópera; fato que nos dá o direito de reservar o termo “letra” para designar o texto da canção popular.

      O francês nomeia a letra da canção com o termo “parole” (palavra, discurso etc.) – talvez aí esteja a origem da expressão “palavra cantada” para designar a letra de canção – e “parolier” o autor das letras, reservando o termo “librettiste” para o autor do texto ou do argumento de uma ópera. E de modo semelhante procede o italiano.

      No Brasil, há algum tempo, abandonamos as palavras “poesia”, “poema”, “texto” e adotamos definitivamente “letra” para denominar as palavras cantadas de uma canção popular, assim como chamamos “letrista” o autor de letras e libretista o autor de libretos ou argumentos de ópera.

      Desde os tempos mais remotos, poemas são musicados por cantadores de lundu e modinha. A figura, a meu ver, que merece ser considerado o primeiro letrista é Catulo da Paixão Cearense.

      Personagem reverenciado tanto quanto contestado, Catulo colocou letra em melodia de grandes músicos, como Anacleto de Medeiros e Villa-lobos. O problema é que Catulo não só colocava letras em melodias já consagradas como, não raramente, trocava-lhes o título. Assim, João Pernambuco morreu sem conseguir provar que “Luar do Sertão” era, na verdade, seu coco “Engenho do Humaitá”, com letra de Catulo.

      Catulo chegou ao extremo de musicar “Iara”, de Anacleto de Medeiros, e processar Villa-lobos porque este utilizou a melodia de “Iara” em sua obra “Choros nº 10”. Atente, caro leitor, para o fato de que ele pôs somente a letra e a Chamou de “Rasga Coração”, portanto não tinha o direito de reclamar direitos pela melodia que, originalmente, era de Anacleto. Por essas e outras é que recebeu, de Radamés Gnattali, o pejorativo apelido de “Chatulo da Paixão Cearense.

         

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