Letra de Música
Os dicionários definem letra como “palavras que acompanham as
músicas nas óperas, canções etc.” Ou “texto em verso de certas músicas, correspondente
à parte que deve ser cantada”.
Primeiro,
nem sempre se canta com letra. Portanto, podemos ter uma melodia cantada que
não dependa de palavras - “Ária da “Bachianas nº 5”, por exemplo. Segundo, o
termo libreto nomeia de maneira mais eficaz o componente linguístico da ópera;
fato que nos dá o direito de reservar o termo “letra” para designar o texto da
canção popular.
O francês nomeia a letra da canção com o termo “parole” (palavra, discurso etc.) – talvez
aí esteja a origem da expressão “palavra cantada” para designar a letra de
canção – e “parolier” o autor das
letras, reservando o termo “librettiste”
para o autor do texto ou do argumento de uma ópera. E de modo semelhante
procede o italiano.
No Brasil, há algum tempo, abandonamos as palavras “poesia”,
“poema”, “texto” e adotamos definitivamente “letra” para denominar as palavras
cantadas de uma canção popular, assim como chamamos “letrista” o autor de
letras e libretista o autor de libretos ou argumentos de ópera.
Desde os tempos mais remotos, poemas são musicados por
cantadores de lundu e modinha. A figura, a meu ver, que merece ser considerado
o primeiro letrista é Catulo da Paixão Cearense.
Personagem reverenciado tanto quanto contestado, Catulo colocou
letra em melodia de grandes músicos, como Anacleto de Medeiros e Villa-lobos. O
problema é que Catulo não só colocava letras em melodias já consagradas como,
não raramente, trocava-lhes o título. Assim, João Pernambuco morreu sem
conseguir provar que “Luar do Sertão” era, na verdade, seu coco “Engenho do
Humaitá”, com letra de Catulo.
Catulo chegou ao extremo de musicar “Iara”, de Anacleto de
Medeiros, e processar Villa-lobos porque este utilizou a melodia de “Iara” em
sua obra “Choros nº 10”. Atente, caro leitor, para o fato de que ele pôs
somente a letra e a Chamou de “Rasga Coração”, portanto não tinha o direito de
reclamar direitos pela melodia que, originalmente, era de Anacleto. Por essas e
outras é que recebeu, de Radamés Gnattali, o pejorativo apelido de “Chatulo da
Paixão Cearense.
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